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Sexta-Feira, 10 de Outubro de 2008 às 10:19:00
Governo e imprensa debatem a cobertura de suicídios na mídia
Seminário questinou limite entre direito à informação e a possibilidade de influenciar comportamentos negativos

Profissionais da imprensa de Sergipe e estudantes de Comunicação tiveram a oportunidade de debater na noite desta quinta-feira, 9, a cobertura de suicídios feita pela mídia. O seminário, promovido pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) dentro do projeto ‘Saúde e Imprensa', levantou uma série de questionamentos acerca do limite tênue que existe entre o direito do público à informação e a possibilidade de influenciar comportamentos negativos entre as pessoas que se enquadram na condição de potenciais suicidas.

Estudos sobre a relação entre a ocorrência de suicídios e os meios de comunicação de massa foram mencionados pelo professor de Psiquiatria da Universidade Federal do Ceará, Cleto Brasileiro Pontes, convidado pela SES para participar do evento como palestrante. Ele citou um fato ocorrido na Europa no século XVIII, quando vários jovens cometeram suicídio usando o mesmo método do herói do romance ‘Os sofrimentos do Jovem Werther' (Goethe, 1774), que se matou com um tiro após um amor mal sucedido.

De acordo com Cleto, o suicídio é um fenômeno cosmopolita, isto é, existe em toda civilização e não há uma leitura única para tal fato. "Trata-se de um fenômeno complexo. Dizer, por exemplo, que as pessoas se matam simplesmente porque têm transtorno mental é ser reducionista", disse o psiquiatra, que acredita que o suicídio é algo que tende a ser copiado. "Dentro do aspecto antropológico ele é imitação. As pessoas não se matam porque herdaram geneticamente essa predisposição dos pais ou de outros parentes", completou.

Em grande parte das redações - com base na hipótese de que qualquer notícia sobre o assunto pode vir a ser o estopim de uma série de outros atos semelhantes - é recomendado aos jornalistas que evitem a divulgação de suicídios. A exceção se aplica aos casos que envolvem pessoas públicas. "É um tema muito polêmico e acredito que todos nós nos deparamos muito com essa realidade", opinou a radialista Magna Santana, que já cobriu a editoria de Polícia e, por diversas vezes, ficou na dúvida entre divulgar ou não os casos de suicídios.

"Optava por não dar muito destaque, mas, infelizmente, ainda hoje a gente encontra repórteres que dão detalhes de como aconteceu e, às vezes, vão tão longe que começam a investigar as causas, passando a se comportar como policiais", disse Magna. Segundo o professor de psiquiatria, o lado espetacular dos detalhes geralmente tem a ver com a personalidade do profissional, que na verdade não está pensando no leitor, mas sim na satisfação da própria curiosidade.

Para o editor do jornal Cinform, João Augusto Freitas, há um paradoxo nesta questão, uma vez que os meios de comunicação não podem fechar os olhos para os acontecimentos. "Quando um assalto acontece, por exemplo, em São Paulo, e é feita uma grande cobertura do caso, assaltos semelhantes começam a ocorrer e a imprensa não deixa de divulgar, porque essa é a nossa matéria-prima. Se a gente for levar a fundo a influência que a mídia provoca, a orientação então é fechar o jornal", considerou o jornalista.

Cautela

Participante do seminário na condição de debatedora, a coordenadora de Comunicação da Secretaria de Estado da Saúde, Nadja Araújo, destacou algumas orientações que constam no manual ‘Prevenção do Suicídio', elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para profissionais da mídia. "A questão nem sempre se situa entre divulgar ou não, mas sim na forma como a divulgação é feita", pontuou.

Ela acrescentou que o jornalista ou radialista pode, por exemplo, desempenhar um papel positivo ao divulgar junto com a notícia sobre suicídio informações sobre ajuda disponível. "Mostre que a pessoa tem alternativas e que tem onde procurar ajuda, seja no CVV (Centro de Valorização da Vida) ou nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)", informou, lembrando que Sergipe é hoje o Estado com maior cobertura de CAPS do país.

Outra orientação destacada por Nadja é considerar na matéria o impacto do suicídio nos familiares da vítima, em termos de estigma e sofrimento familiar. "Isso pode ajudar a reduzir as chances da pessoa querer se matar, pois por mais que ela tenha vontade de cometer esse ato, provavelmente ela não quer fazer sofrer aqueles que ama", ressalta. "Na correria do dia-a-dia, na busca por notícias, às vezes a gente acaba sendo insensível, mas eu tenho certeza de que nenhum profissional quer causar sofrimento", concluiu.

Saúde e Imprensa

Esta é a primeira edição do projeto que tem dois grandes objetivos: estreitar a relação da SES com a imprensa e colaborar com a qualificação dos jornalistas e radialistas para que estejam mais capacitados na cobertura dos assuntos que envolvem saúde. A escolha do tema levou em conta a comemoração do ‘Dia Mundial da Saúde Mental', celebrado nesta sexta-feira, 10.

Além do palestrante Cleto Pontes e da debatedora Nadja Araújo, o seminário contou com a presença da secretária Adjunta de Saúde, Mônica Sampaio, que durante a abertura destacou a importância do evento. "Trata-se de um seminário que compõe um ciclo e que está inserido em um projeto inovador cujo foco é o diálogo com a imprensa e a troca de conhecimentos", disse.

O público participante, formado também por alguns profissionais da área de saúde, pôde ainda obter informações acerca dos serviços oferecidos em Sergipe às pessoas com transtornos mentais. A breve apresentação foi feita pela coordenadora de Atenção Psicossocial da SES, Ana Raquel Santiago.

A Secretaria já planeja realizar a segunda edição do projeto daqui a dois meses. O assunto será DST/AIDS, em virtude do ‘Dia de Luta Contra a AIDS', celebrado mundialmente em 1º de dezembro.

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Governo e imprensa debatem a cobertura de suicídios na mídia
Seminário questinou limite entre direito à informação e a possibilidade de influenciar comportamentos negativos
Sexta-Feira, 10 de Outubro de 2008 às 10:19:00

Profissionais da imprensa de Sergipe e estudantes de Comunicação tiveram a oportunidade de debater na noite desta quinta-feira, 9, a cobertura de suicídios feita pela mídia. O seminário, promovido pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) dentro do projeto ‘Saúde e Imprensa', levantou uma série de questionamentos acerca do limite tênue que existe entre o direito do público à informação e a possibilidade de influenciar comportamentos negativos entre as pessoas que se enquadram na condição de potenciais suicidas.

Estudos sobre a relação entre a ocorrência de suicídios e os meios de comunicação de massa foram mencionados pelo professor de Psiquiatria da Universidade Federal do Ceará, Cleto Brasileiro Pontes, convidado pela SES para participar do evento como palestrante. Ele citou um fato ocorrido na Europa no século XVIII, quando vários jovens cometeram suicídio usando o mesmo método do herói do romance ‘Os sofrimentos do Jovem Werther' (Goethe, 1774), que se matou com um tiro após um amor mal sucedido.

De acordo com Cleto, o suicídio é um fenômeno cosmopolita, isto é, existe em toda civilização e não há uma leitura única para tal fato. "Trata-se de um fenômeno complexo. Dizer, por exemplo, que as pessoas se matam simplesmente porque têm transtorno mental é ser reducionista", disse o psiquiatra, que acredita que o suicídio é algo que tende a ser copiado. "Dentro do aspecto antropológico ele é imitação. As pessoas não se matam porque herdaram geneticamente essa predisposição dos pais ou de outros parentes", completou.

Em grande parte das redações - com base na hipótese de que qualquer notícia sobre o assunto pode vir a ser o estopim de uma série de outros atos semelhantes - é recomendado aos jornalistas que evitem a divulgação de suicídios. A exceção se aplica aos casos que envolvem pessoas públicas. "É um tema muito polêmico e acredito que todos nós nos deparamos muito com essa realidade", opinou a radialista Magna Santana, que já cobriu a editoria de Polícia e, por diversas vezes, ficou na dúvida entre divulgar ou não os casos de suicídios.

"Optava por não dar muito destaque, mas, infelizmente, ainda hoje a gente encontra repórteres que dão detalhes de como aconteceu e, às vezes, vão tão longe que começam a investigar as causas, passando a se comportar como policiais", disse Magna. Segundo o professor de psiquiatria, o lado espetacular dos detalhes geralmente tem a ver com a personalidade do profissional, que na verdade não está pensando no leitor, mas sim na satisfação da própria curiosidade.

Para o editor do jornal Cinform, João Augusto Freitas, há um paradoxo nesta questão, uma vez que os meios de comunicação não podem fechar os olhos para os acontecimentos. "Quando um assalto acontece, por exemplo, em São Paulo, e é feita uma grande cobertura do caso, assaltos semelhantes começam a ocorrer e a imprensa não deixa de divulgar, porque essa é a nossa matéria-prima. Se a gente for levar a fundo a influência que a mídia provoca, a orientação então é fechar o jornal", considerou o jornalista.

Cautela

Participante do seminário na condição de debatedora, a coordenadora de Comunicação da Secretaria de Estado da Saúde, Nadja Araújo, destacou algumas orientações que constam no manual ‘Prevenção do Suicídio', elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para profissionais da mídia. "A questão nem sempre se situa entre divulgar ou não, mas sim na forma como a divulgação é feita", pontuou.

Ela acrescentou que o jornalista ou radialista pode, por exemplo, desempenhar um papel positivo ao divulgar junto com a notícia sobre suicídio informações sobre ajuda disponível. "Mostre que a pessoa tem alternativas e que tem onde procurar ajuda, seja no CVV (Centro de Valorização da Vida) ou nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)", informou, lembrando que Sergipe é hoje o Estado com maior cobertura de CAPS do país.

Outra orientação destacada por Nadja é considerar na matéria o impacto do suicídio nos familiares da vítima, em termos de estigma e sofrimento familiar. "Isso pode ajudar a reduzir as chances da pessoa querer se matar, pois por mais que ela tenha vontade de cometer esse ato, provavelmente ela não quer fazer sofrer aqueles que ama", ressalta. "Na correria do dia-a-dia, na busca por notícias, às vezes a gente acaba sendo insensível, mas eu tenho certeza de que nenhum profissional quer causar sofrimento", concluiu.

Saúde e Imprensa

Esta é a primeira edição do projeto que tem dois grandes objetivos: estreitar a relação da SES com a imprensa e colaborar com a qualificação dos jornalistas e radialistas para que estejam mais capacitados na cobertura dos assuntos que envolvem saúde. A escolha do tema levou em conta a comemoração do ‘Dia Mundial da Saúde Mental', celebrado nesta sexta-feira, 10.

Além do palestrante Cleto Pontes e da debatedora Nadja Araújo, o seminário contou com a presença da secretária Adjunta de Saúde, Mônica Sampaio, que durante a abertura destacou a importância do evento. "Trata-se de um seminário que compõe um ciclo e que está inserido em um projeto inovador cujo foco é o diálogo com a imprensa e a troca de conhecimentos", disse.

O público participante, formado também por alguns profissionais da área de saúde, pôde ainda obter informações acerca dos serviços oferecidos em Sergipe às pessoas com transtornos mentais. A breve apresentação foi feita pela coordenadora de Atenção Psicossocial da SES, Ana Raquel Santiago.

A Secretaria já planeja realizar a segunda edição do projeto daqui a dois meses. O assunto será DST/AIDS, em virtude do ‘Dia de Luta Contra a AIDS', celebrado mundialmente em 1º de dezembro.