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Sexta-Feira, 23 de Maio de 2008 às 12:03:00
Perspectivas Econômicas de Sergipe

Por Jorge Santana e Ricardo Lacerda (*)

Há mais de 20 anos a economia de Sergipe apresenta desempenho superior às médias brasileira e nordestina, quando se observa a evolução do PIB, com exceção dos primeiros anos da década de 1990. O PIB per capita é, desde há muitos anos, o mais elevado do Nordeste, e Aracaju apresenta uma das mais altas rendas per capita dentre as capitais nordestinas. Diante disso, pensando no longo prazo, Sergipe é um estado diferenciado dos demais do Nordeste, pelo crescimento apresentado, pelas estruturas produtivas industrial e agrícola relativamente diversificadas e pela convivência de grandes empreendimentos como a Petrobrás e Vale, com um
grande número de pequenas e médias empresas de capital local, e a presença de uma classe média que se expande muito rapidamente.

Sergipe combina a presença de importantes investimentos na extração de riquezas minerais nas áreas de petróleo e gás, além de potássio, uréia e calcário que fazem do Estado um nascente pólo de fertilizantes e um dos maiores produtores de cimento do Brasil. A estrutura agrária relativamente desconcentrada condicionou uma estrutura social menos desigual do que a média da região. Esses indicadores positivos não significam, todavia, que não persistam problemas sociais graves que exigem para a sua superação importantes investimentos em educação e saúde, assim como em infra-estrutura de estradas, cujo processo de recuperação da malha viária estadual está em curso, e, sobretudo, na ampliação do Terminal Marítimo Inácio Barbosa.

O PIB de Sergipe, em 2005, segundo IBGE, atingiu R$ 13,4 bilhões. Ainda que represente apenas 0,63% do PIB brasileiro, em virtude de suas pequenas dimensões territorial e populacional, deve-se considerar que o Nordeste responde por 13,06% do PIB nacional, um montante de R$ 280,5 bilhões e que também vem crescendo mais rapidamente do que a média nacional. O IDH de Sergipe, no último registro oficial, em 2000, era de 0,682, contra a média brasileira de 0,766. Esse indicador era superior à média do Nordeste no que tange à renda, mas inferior no quesito saúde e na média nordestina em educação. Desde 2000, os resultados têm melhorado em razão de adoção de políticas focadas nesse objetivo e há indicação de que Sergipe vai se apresentar melhor posicionado na próxima medição do IDH.


Mercados em expansão

No setor terciário (comércio e serviços), tem-se verificado uma notória melhoria com o surgimento de um comércio mais sofisticado voltado para a classe média. Os segmentos de saúde e de tecnologia da informação também se diversificaram e têm avançado, o que significa que Aracaju se apresenta como uma economia urbana que tem buscado dar conta de atender os requisitos dos segmentos produtivos mais intensivos em conhecimento. Ao lado disso, a emergência das classes C e D em todo o Nordeste abriu
um grande mercado para os produtos populares.

Notável, igualmente, tem sido a evolução da construção civil. Vista com atenção, Aracaju é talvez a última capital litorânea do Nordeste onde ainda não se verificou a transferência da classe média e das atividades de comércio e serviços para a região da praia, como aconteceu com Boa Viagem, em Recife, Ponta Negra, em Natal, ou Praia do Futuro, em Fortaleza. Esse movimento está apenas se iniciando em Aracaju, com a implantação de condomínios de casas na chamada zona de expansão. Mas os preços dos lotes são ainda visivelmente mais baixos do que nas demais capitais da região. Essa explosão, é sentimento geral dos incorporadores, não tarda a acontecer. A par disso, a indústria da construção civil tem presença marcante na economia sergipana, com domínio de mercado de empresas de diversos portes e de capital local.

Com o mercado de commodities em alta na economia mundial, os investimentos da Petrobrás e da Vale têm se expandido significativamente na economia sergipana. Particularmente a Petrobrás vem realizando um esforço considerável na formação de rede de fornecedores locais, com reflexos na criação de empresas qualificadas na prestação de serviços no segmento de petróleo e gás. A entrada em operação da plataforma de Piranema, no litoral sul do Estado, que irá ampliar em 30% a produção de petróleo, contribui para impulsionar as atividades dessa cadeia produtiva. Atento ao momento ímpar dessa indústria, eufórica com as sucessivas quebras de recordes do preço do barril de petróleo, o governo do Estado se movimenta com o objetivo de especializar a Zona de Processamento de Exportações de Sergipe (ZPE-SE) nas atividades industriais da cadeia de suprimento da exploração e produção de petróleo e gás, cujo conteúdo nacional precisa crescer.

Agropecuária

No setor primário, numa perspectiva de longo prazo, está ocorrendo uma mudança estrutural no campo sergipano, inclusive com a integração da produção agropecuária com a agroindústria. Ao lado de culturas tradicionais, como milho e mandioca que continuam a desempenhar um papel importante na geração de renda das famílias, tem havido uma diversificação em direção às culturas permanentes como laranja, manga, côco-da-bahia, além de novas culturas temporárias como o abacaxi. O avanço da lavoura, que em geral envolve atividades mais intensivas em recursos e trabalho do que a pecuária, pode ser sintetizado no fato de que, comparativamente a 1995, quando as lavouras representavam apenas 17,9% da utilização das terras, o novo censo agropecuário, de 2006, aponta que elas participam com 44,3%. A produção de cana-de-açúcar, muitos anos em decadência, tomou novo impulso nos últimos anos, sobretudo com a implantação de novas destilarias na mata norte do Estado.

A pecuária leiteira no semi-árido, conduzida pela pequena propriedade, também tem avançado, com o surgimento de novas unidades de beneficiamento. A bacia leiteira do Estado, que era relativamente pouco expressiva, nos últimos anos cresceu muito, atraindo novos investimentos para produção de leites e derivados.

Reestruturação e perspectivas

No início dos anos 90, o setor têxtil foi fortemente atingido pela abertura comercial. Desde lá, as indústrias passaram por um processo forte de reestruturação, com a modernização e o enxugamento de linhas de produção. Com a valorização recente do Real e o fim do acordo de multifibras, a “invasão chinesa” levou a um novo revés da indústria têxtil tradicional do Estado, em grande parte de propriedade de grupos locais. Algumas empresas têm reagido bem, mas outras passam por dificuldades. Alguns empresários, todavia, assinalam que a forte expansão do mercado interno desde o segundo semestre de 2007, tem amortecido o impacto da importação e aberto novas perspectivas.

Sergipe precisa investir fortemente em infra-estrutura, notadamente na ampliação do seu porto e aeroporto e buscar uma maior inserção na economia nacional. Além de ocupar os espaços que a expansão do mercado local tem propiciado é necessário que o empresariado busque mais intensamente novos mercados. Umas das estratégias que vêm sendo utilizadas é o fortalecimento dos chamados Arranjos Produtivos Locais, de pequenas e médias empresas, que buscam compensar a reduzida escala de
produção empresarial por meio de uma ação conjunta de empresas para enfrentar questões de infra-estrutura, fornecimento de serviços especializados, mão-de-obra qualificada, tecnologia e inovação e acesso a mercados.

A estratégia de interiorização dos investimentos e de apoio aos Arranjos Produtivos Locais tem sido uma das realizações mais promissoras do governo do Estado. Nos oito territórios de desenvolvimento, definidos com base nas características físicas, econômicas, sociais e de ocupação histórica, estão sendo alinhadas estratégias de desenvolvimento com vistas a promover um crescimento mais equilibrado espacialmente e que se revele mobilizador dos recursos locais. Combinar essas estratégias de
cunho local com projetos estruturantes no âmbito do Estado é a grande arte que desafia as lideranças estaduais.

Há que se considerar o desafio de fortalecer os fatores de atração do investimento privado, desde a infra-estrutura produtiva, passando pela formação do capital humano, sem esquecer da tecnologia e inovação, das facilidades logísticas e da integração com cadeias produtivas. Esse desafio se torna ainda mais relevante diante do iminente fim da política de concessão de incentivos fiscais, modelo que se revelou importante mas que se esgotou ao engendrar a reprovável "Guerra Fiscal" entre os Estados nas disputas pelos empreendimentos.

O ambiente macroeconômico nacional favorárvel e as experiências acumuladas de planejamento abrem enormes possibilidades para que os Estados, particularmente do Nordeste, inaugurem um novo ciclo de desenvolvimento em muitos aspectos superior a ciclos anteriores quando se apostou que a implantação de grandes pólos de investimentos daria conta de enfrentar os problemas econômicos e sociais. A experiência revelou que esses grandes pólos foram muito importantes para a modernização do Nordeste, mas completamente insuficientes para resgatar a histórica dívida social. O acúmulo de experiência serviu para separar o joio do trigo. É fundamental atrair investimentos para a região, mas isso deve ser articulado com as estratégias nacionais, regionais e
locais de desenvolvimento, visando assegurar maiores impactos econômicos e sociais.

(*) Jorge Santana é secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia.

(*) Ricardo Lacerda é professor doutor do Departamento de Economia da UFS.

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Perspectivas Econômicas de Sergipe
Sexta-Feira, 23 de Maio de 2008 às 12:03:00

Por Jorge Santana e Ricardo Lacerda (*)

Há mais de 20 anos a economia de Sergipe apresenta desempenho superior às médias brasileira e nordestina, quando se observa a evolução do PIB, com exceção dos primeiros anos da década de 1990. O PIB per capita é, desde há muitos anos, o mais elevado do Nordeste, e Aracaju apresenta uma das mais altas rendas per capita dentre as capitais nordestinas. Diante disso, pensando no longo prazo, Sergipe é um estado diferenciado dos demais do Nordeste, pelo crescimento apresentado, pelas estruturas produtivas industrial e agrícola relativamente diversificadas e pela convivência de grandes empreendimentos como a Petrobrás e Vale, com um
grande número de pequenas e médias empresas de capital local, e a presença de uma classe média que se expande muito rapidamente.

Sergipe combina a presença de importantes investimentos na extração de riquezas minerais nas áreas de petróleo e gás, além de potássio, uréia e calcário que fazem do Estado um nascente pólo de fertilizantes e um dos maiores produtores de cimento do Brasil. A estrutura agrária relativamente desconcentrada condicionou uma estrutura social menos desigual do que a média da região. Esses indicadores positivos não significam, todavia, que não persistam problemas sociais graves que exigem para a sua superação importantes investimentos em educação e saúde, assim como em infra-estrutura de estradas, cujo processo de recuperação da malha viária estadual está em curso, e, sobretudo, na ampliação do Terminal Marítimo Inácio Barbosa.

O PIB de Sergipe, em 2005, segundo IBGE, atingiu R$ 13,4 bilhões. Ainda que represente apenas 0,63% do PIB brasileiro, em virtude de suas pequenas dimensões territorial e populacional, deve-se considerar que o Nordeste responde por 13,06% do PIB nacional, um montante de R$ 280,5 bilhões e que também vem crescendo mais rapidamente do que a média nacional. O IDH de Sergipe, no último registro oficial, em 2000, era de 0,682, contra a média brasileira de 0,766. Esse indicador era superior à média do Nordeste no que tange à renda, mas inferior no quesito saúde e na média nordestina em educação. Desde 2000, os resultados têm melhorado em razão de adoção de políticas focadas nesse objetivo e há indicação de que Sergipe vai se apresentar melhor posicionado na próxima medição do IDH.


Mercados em expansão

No setor terciário (comércio e serviços), tem-se verificado uma notória melhoria com o surgimento de um comércio mais sofisticado voltado para a classe média. Os segmentos de saúde e de tecnologia da informação também se diversificaram e têm avançado, o que significa que Aracaju se apresenta como uma economia urbana que tem buscado dar conta de atender os requisitos dos segmentos produtivos mais intensivos em conhecimento. Ao lado disso, a emergência das classes C e D em todo o Nordeste abriu
um grande mercado para os produtos populares.

Notável, igualmente, tem sido a evolução da construção civil. Vista com atenção, Aracaju é talvez a última capital litorânea do Nordeste onde ainda não se verificou a transferência da classe média e das atividades de comércio e serviços para a região da praia, como aconteceu com Boa Viagem, em Recife, Ponta Negra, em Natal, ou Praia do Futuro, em Fortaleza. Esse movimento está apenas se iniciando em Aracaju, com a implantação de condomínios de casas na chamada zona de expansão. Mas os preços dos lotes são ainda visivelmente mais baixos do que nas demais capitais da região. Essa explosão, é sentimento geral dos incorporadores, não tarda a acontecer. A par disso, a indústria da construção civil tem presença marcante na economia sergipana, com domínio de mercado de empresas de diversos portes e de capital local.

Com o mercado de commodities em alta na economia mundial, os investimentos da Petrobrás e da Vale têm se expandido significativamente na economia sergipana. Particularmente a Petrobrás vem realizando um esforço considerável na formação de rede de fornecedores locais, com reflexos na criação de empresas qualificadas na prestação de serviços no segmento de petróleo e gás. A entrada em operação da plataforma de Piranema, no litoral sul do Estado, que irá ampliar em 30% a produção de petróleo, contribui para impulsionar as atividades dessa cadeia produtiva. Atento ao momento ímpar dessa indústria, eufórica com as sucessivas quebras de recordes do preço do barril de petróleo, o governo do Estado se movimenta com o objetivo de especializar a Zona de Processamento de Exportações de Sergipe (ZPE-SE) nas atividades industriais da cadeia de suprimento da exploração e produção de petróleo e gás, cujo conteúdo nacional precisa crescer.

Agropecuária

No setor primário, numa perspectiva de longo prazo, está ocorrendo uma mudança estrutural no campo sergipano, inclusive com a integração da produção agropecuária com a agroindústria. Ao lado de culturas tradicionais, como milho e mandioca que continuam a desempenhar um papel importante na geração de renda das famílias, tem havido uma diversificação em direção às culturas permanentes como laranja, manga, côco-da-bahia, além de novas culturas temporárias como o abacaxi. O avanço da lavoura, que em geral envolve atividades mais intensivas em recursos e trabalho do que a pecuária, pode ser sintetizado no fato de que, comparativamente a 1995, quando as lavouras representavam apenas 17,9% da utilização das terras, o novo censo agropecuário, de 2006, aponta que elas participam com 44,3%. A produção de cana-de-açúcar, muitos anos em decadência, tomou novo impulso nos últimos anos, sobretudo com a implantação de novas destilarias na mata norte do Estado.

A pecuária leiteira no semi-árido, conduzida pela pequena propriedade, também tem avançado, com o surgimento de novas unidades de beneficiamento. A bacia leiteira do Estado, que era relativamente pouco expressiva, nos últimos anos cresceu muito, atraindo novos investimentos para produção de leites e derivados.

Reestruturação e perspectivas

No início dos anos 90, o setor têxtil foi fortemente atingido pela abertura comercial. Desde lá, as indústrias passaram por um processo forte de reestruturação, com a modernização e o enxugamento de linhas de produção. Com a valorização recente do Real e o fim do acordo de multifibras, a “invasão chinesa” levou a um novo revés da indústria têxtil tradicional do Estado, em grande parte de propriedade de grupos locais. Algumas empresas têm reagido bem, mas outras passam por dificuldades. Alguns empresários, todavia, assinalam que a forte expansão do mercado interno desde o segundo semestre de 2007, tem amortecido o impacto da importação e aberto novas perspectivas.

Sergipe precisa investir fortemente em infra-estrutura, notadamente na ampliação do seu porto e aeroporto e buscar uma maior inserção na economia nacional. Além de ocupar os espaços que a expansão do mercado local tem propiciado é necessário que o empresariado busque mais intensamente novos mercados. Umas das estratégias que vêm sendo utilizadas é o fortalecimento dos chamados Arranjos Produtivos Locais, de pequenas e médias empresas, que buscam compensar a reduzida escala de
produção empresarial por meio de uma ação conjunta de empresas para enfrentar questões de infra-estrutura, fornecimento de serviços especializados, mão-de-obra qualificada, tecnologia e inovação e acesso a mercados.

A estratégia de interiorização dos investimentos e de apoio aos Arranjos Produtivos Locais tem sido uma das realizações mais promissoras do governo do Estado. Nos oito territórios de desenvolvimento, definidos com base nas características físicas, econômicas, sociais e de ocupação histórica, estão sendo alinhadas estratégias de desenvolvimento com vistas a promover um crescimento mais equilibrado espacialmente e que se revele mobilizador dos recursos locais. Combinar essas estratégias de
cunho local com projetos estruturantes no âmbito do Estado é a grande arte que desafia as lideranças estaduais.

Há que se considerar o desafio de fortalecer os fatores de atração do investimento privado, desde a infra-estrutura produtiva, passando pela formação do capital humano, sem esquecer da tecnologia e inovação, das facilidades logísticas e da integração com cadeias produtivas. Esse desafio se torna ainda mais relevante diante do iminente fim da política de concessão de incentivos fiscais, modelo que se revelou importante mas que se esgotou ao engendrar a reprovável "Guerra Fiscal" entre os Estados nas disputas pelos empreendimentos.

O ambiente macroeconômico nacional favorárvel e as experiências acumuladas de planejamento abrem enormes possibilidades para que os Estados, particularmente do Nordeste, inaugurem um novo ciclo de desenvolvimento em muitos aspectos superior a ciclos anteriores quando se apostou que a implantação de grandes pólos de investimentos daria conta de enfrentar os problemas econômicos e sociais. A experiência revelou que esses grandes pólos foram muito importantes para a modernização do Nordeste, mas completamente insuficientes para resgatar a histórica dívida social. O acúmulo de experiência serviu para separar o joio do trigo. É fundamental atrair investimentos para a região, mas isso deve ser articulado com as estratégias nacionais, regionais e
locais de desenvolvimento, visando assegurar maiores impactos econômicos e sociais.

(*) Jorge Santana é secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia.

(*) Ricardo Lacerda é professor doutor do Departamento de Economia da UFS.