Notícias
Notícias
Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024 às 14:00:00
Ações de combate à desertificação na Caatinga são destaques no Monumento Natural Grota do Angico
A proteção desse sítio ecológico e histórico, no alto sertão sergipano, representa um avanço rumo à conservação desse bioma exclusivamente brasileiro, que é celebrado no 28 de Abril

Correspondente a uma área total de 2.248 hectares de caatinga, o Monumento Natural (Mona) Grota do Angico é símbolo de resiliência ambiental e cultural no alto sertão sergipano. Responsável por salvaguardar a biodiversidade presente no bioma, o Mona está localizado entre os municípios de Canindé de São Francisco e Poço Redondo e tem como objetivo preservar o sítio natural Grota do Angico e elementos culturais associados, mantendo a integridade dos ecossistemas naturais para o desenvolvimento de pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo e visitação pública.

Sob a gestão do Governo de Sergipe, por meio da da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Ações Climáticas (Semac), a Unidade de Conservação (UC) alcançou muitos avanços ao longo dos 16 anos de existência. De acordo com a gerente de Áreas Protegidas e Florestas da Semac, Valdelice Barreto Leite, a conservação da caatinga necessita de uma estrutura básica de apoio para o desenvolvimento de atividades, que é oferecida pelo Mona Grota do Angico. 

“Nós temos uma sede administrativa com equipamentos para a gestão, monitoramento e capacitação na unidade, além de também oferecer aos visitantes e pesquisadores uma parte da nossa história representada pela Casa do Sertanejo, um pequeno museu montado a partir de doações de moradores da região, como objetivos e ornamentos. Isso representa o que a gente vive aqui na unidade: o apelo ambiental da conservação da caatinga e o apelo cultural por meio da vivência do cangaço”, considerou Valdelice Barreto.

Outra vertente trabalhada pelo Mona Grota do Angico diz respeito ao reflorestamento de áreas degradadas. “Um grande desafio na conservação da natureza e na gestão de UCs. Além de manter a vegetação que permanece conservada, nós temos que investir na recuperação. Aqui nós temos o viveiro ‘Caatinga sempre viva’, desenvolvido para a produção de mudas nativas a fim de recuperar as áreas abertas da nossa unidade”, explicou a gerente.

Uma das viveiristas capacitadas pelo projeto Elos da Caatinga é Brena Santos Nazaré, moradora do Assentamento 4 Casas, que destaca a relevância de se trabalhar a restauração do bioma. “Cuidar de mudas nativas é totalmente diferente e incrível. Foi muito importante viver essa prática e produção de todas essas mudas que fazem parte do viveiro e que vão ajudar na recuperação de áreas desmatadas aqui do Mona. Contamos com muitas espécies do bioma caatinga e todas serão cultivadas aqui, como as cactáceas, que são as mais comuns, a quixabeira, o umbuzeiro e outras”, colocou.

Combate à desertificação

De acordo com a bióloga da Secretaria do Meio Ambiente de Canindé de São Francisco, Andressa Amorim, por muito tempo a caatinga foi vista como resultado de uma área degradada. “Posteriormente, por meio de diversas pesquisas, pôde-se observar que se tratava não só de uma área rica em patrimônios genéticos, mas também de um bioma endêmico, que é exclusivamente do Brasil, e possui inúmeras espécies que também não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo”, detalhou.

“O bioma caatinga possui as suas peculiaridades e características que são adaptáveis a essa região, que conferem a ela as condições de sobreviverem em um ambiente que para outras espécies seria inóspito. Trata-se de um bioma bastante rico biologicamente”, acrescentou Andressa Amorim.

Conforme explica a especialista, o manejo inadequado da caatinga tem causado o avanço da desertificação em algumas áreas. “Apesar de toda essa relevância e riqueza, os índices de desmatamento são cada vez mais crescentes. Essas práticas inadequadas que ainda ocorrem nesse bioma vem levando algumas áreas a configurarem na lista de áreas suscetíveis à desertificação. No estado de Sergipe, temos sete municípios com essa condição”, disse.

Ainda de acordo com Andressa Amorim, diferentemente de áreas desérticas, as áreas desertificadas foram transformadas pela ação inadequada do homem, configurando não somente a diminuição da vegetação, mas também a extinção do sertanejo dessas áreas. “Quando a gente pensa em proteger a caatinga, não estamos falando só da fauna e flora, mas também dos nativos que ali residem. Por isso a importância de fomentarmos projetos de desenvolvimento sustentável através de tecnologias que possibilitem uma sobrevivência harmoniosa com o semiárido. Hoje sabemos que é possível”, salientou.

Importância cultural

A importância do Monumento Natural se eleva quando se observa o seu valor histórico e cultural em função da presença da Grota do Angico, pois foi alvo da rota do Cangaço e cenário da morte do maior ícone deste movimento, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, sua companheira Maria Bonita e outros nove cangaceiros — fato ocorrido em 28 de julho de 1938.

É nessa perspectiva de resgate cultural que acontece, há 26 anos, na Grota do Angico, a Missa do Cangaço. A jornalista e escritora Vera Ferreira, neta de Lampião, destaca que todos os anos a celebração planta uma semente. “Para que as pessoas colham os frutos mais tarde e que propaguem por muitas e muitas gerações a história dos meus avôs. São 85 anos, e vemos pessoas de todas as idades querendo conhecer a história. Esse é o nosso trabalho e a nossa missão”, concluiu.

Fauna e flora

Em sua caracterização florística, o Mona Grota do Angico possui 157 espécies nos limites da Unidade de Conservação, distribuídas em 108 gêneros e 45 famílias, sendo 18 espécies endêmicas da Caatinga. Na caracterização da fauna, registra-se a presença de 24 espécies de mamíferos; 124 de aves, sendo 14 espécies consideradas como endêmicas do Brasil e duas presentes na lista de espécies ameaçada do IBAMA (2003) como vulneráveis à extinção (são o jaó-do-sul Crypturellus noctivagus (e o chorozinho-de-papo-preto Herpsilochmus pectoralis); 25 espécies de répteis e 18 de anfíbios, sendo em que sua totalidade, os anfíbios representando a ordem Anura, enquanto que os répteis subdividindo-se em dois quelônios, 12 lagartos e 11 serpentes. 

Segundo pesquisadores, em todos os grupos estudados existe uma expectativa de ampliação da lista de espécies, o que atesta a importância dessa área protegida.

Compartilhe            
Notícia
/ Notícias / meio-ambiente

Ações de combate à desertificação na Caatinga são destaques no Monumento Natural Grota do Angico
A proteção desse sítio ecológico e histórico, no alto sertão sergipano, representa um avanço rumo à conservação desse bioma exclusivamente brasileiro, que é celebrado no 28 de Abril
Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024 às 14:00:00

Correspondente a uma área total de 2.248 hectares de caatinga, o Monumento Natural (Mona) Grota do Angico é símbolo de resiliência ambiental e cultural no alto sertão sergipano. Responsável por salvaguardar a biodiversidade presente no bioma, o Mona está localizado entre os municípios de Canindé de São Francisco e Poço Redondo e tem como objetivo preservar o sítio natural Grota do Angico e elementos culturais associados, mantendo a integridade dos ecossistemas naturais para o desenvolvimento de pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo e visitação pública.

Sob a gestão do Governo de Sergipe, por meio da da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Ações Climáticas (Semac), a Unidade de Conservação (UC) alcançou muitos avanços ao longo dos 16 anos de existência. De acordo com a gerente de Áreas Protegidas e Florestas da Semac, Valdelice Barreto Leite, a conservação da caatinga necessita de uma estrutura básica de apoio para o desenvolvimento de atividades, que é oferecida pelo Mona Grota do Angico. 

“Nós temos uma sede administrativa com equipamentos para a gestão, monitoramento e capacitação na unidade, além de também oferecer aos visitantes e pesquisadores uma parte da nossa história representada pela Casa do Sertanejo, um pequeno museu montado a partir de doações de moradores da região, como objetivos e ornamentos. Isso representa o que a gente vive aqui na unidade: o apelo ambiental da conservação da caatinga e o apelo cultural por meio da vivência do cangaço”, considerou Valdelice Barreto.

Outra vertente trabalhada pelo Mona Grota do Angico diz respeito ao reflorestamento de áreas degradadas. “Um grande desafio na conservação da natureza e na gestão de UCs. Além de manter a vegetação que permanece conservada, nós temos que investir na recuperação. Aqui nós temos o viveiro ‘Caatinga sempre viva’, desenvolvido para a produção de mudas nativas a fim de recuperar as áreas abertas da nossa unidade”, explicou a gerente.

Uma das viveiristas capacitadas pelo projeto Elos da Caatinga é Brena Santos Nazaré, moradora do Assentamento 4 Casas, que destaca a relevância de se trabalhar a restauração do bioma. “Cuidar de mudas nativas é totalmente diferente e incrível. Foi muito importante viver essa prática e produção de todas essas mudas que fazem parte do viveiro e que vão ajudar na recuperação de áreas desmatadas aqui do Mona. Contamos com muitas espécies do bioma caatinga e todas serão cultivadas aqui, como as cactáceas, que são as mais comuns, a quixabeira, o umbuzeiro e outras”, colocou.

Combate à desertificação

De acordo com a bióloga da Secretaria do Meio Ambiente de Canindé de São Francisco, Andressa Amorim, por muito tempo a caatinga foi vista como resultado de uma área degradada. “Posteriormente, por meio de diversas pesquisas, pôde-se observar que se tratava não só de uma área rica em patrimônios genéticos, mas também de um bioma endêmico, que é exclusivamente do Brasil, e possui inúmeras espécies que também não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo”, detalhou.

“O bioma caatinga possui as suas peculiaridades e características que são adaptáveis a essa região, que conferem a ela as condições de sobreviverem em um ambiente que para outras espécies seria inóspito. Trata-se de um bioma bastante rico biologicamente”, acrescentou Andressa Amorim.

Conforme explica a especialista, o manejo inadequado da caatinga tem causado o avanço da desertificação em algumas áreas. “Apesar de toda essa relevância e riqueza, os índices de desmatamento são cada vez mais crescentes. Essas práticas inadequadas que ainda ocorrem nesse bioma vem levando algumas áreas a configurarem na lista de áreas suscetíveis à desertificação. No estado de Sergipe, temos sete municípios com essa condição”, disse.

Ainda de acordo com Andressa Amorim, diferentemente de áreas desérticas, as áreas desertificadas foram transformadas pela ação inadequada do homem, configurando não somente a diminuição da vegetação, mas também a extinção do sertanejo dessas áreas. “Quando a gente pensa em proteger a caatinga, não estamos falando só da fauna e flora, mas também dos nativos que ali residem. Por isso a importância de fomentarmos projetos de desenvolvimento sustentável através de tecnologias que possibilitem uma sobrevivência harmoniosa com o semiárido. Hoje sabemos que é possível”, salientou.

Importância cultural

A importância do Monumento Natural se eleva quando se observa o seu valor histórico e cultural em função da presença da Grota do Angico, pois foi alvo da rota do Cangaço e cenário da morte do maior ícone deste movimento, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, sua companheira Maria Bonita e outros nove cangaceiros — fato ocorrido em 28 de julho de 1938.

É nessa perspectiva de resgate cultural que acontece, há 26 anos, na Grota do Angico, a Missa do Cangaço. A jornalista e escritora Vera Ferreira, neta de Lampião, destaca que todos os anos a celebração planta uma semente. “Para que as pessoas colham os frutos mais tarde e que propaguem por muitas e muitas gerações a história dos meus avôs. São 85 anos, e vemos pessoas de todas as idades querendo conhecer a história. Esse é o nosso trabalho e a nossa missão”, concluiu.

Fauna e flora

Em sua caracterização florística, o Mona Grota do Angico possui 157 espécies nos limites da Unidade de Conservação, distribuídas em 108 gêneros e 45 famílias, sendo 18 espécies endêmicas da Caatinga. Na caracterização da fauna, registra-se a presença de 24 espécies de mamíferos; 124 de aves, sendo 14 espécies consideradas como endêmicas do Brasil e duas presentes na lista de espécies ameaçada do IBAMA (2003) como vulneráveis à extinção (são o jaó-do-sul Crypturellus noctivagus (e o chorozinho-de-papo-preto Herpsilochmus pectoralis); 25 espécies de répteis e 18 de anfíbios, sendo em que sua totalidade, os anfíbios representando a ordem Anura, enquanto que os répteis subdividindo-se em dois quelônios, 12 lagartos e 11 serpentes. 

Segundo pesquisadores, em todos os grupos estudados existe uma expectativa de ampliação da lista de espécies, o que atesta a importância dessa área protegida.