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Segunda-Feira, 29 de Junho de 2015 às 14:01:00
Comidas típicas: tradição e lucro no período junino
Nas feiras populares, na capital e no interior, a matéria prima dos alimentos ou os pratos já elaborados estão à disposição dos consumidores

Tão marcante na cultura popular quanto as festas, danças e músicas, as comidas típicas, no Nordeste, ganham destaque no período junino, onde são ainda mais consumidas e comercializadas. Em Sergipe, o beiju, a queijada, o sarôio, o manauê e o amendoim verde cozido mais do que delícias associadas aos festejos da época, ganharam o título de patrimônio do Estado e caracterizam a época marcada pelas homenagens a Santo Antônio, São João e São Pedro.

Nas feiras populares, na capital e no interior, a matéria prima dos alimentos ou os pratos já elaborados estão à disposição dos consumidores. “Trabalho aqui, no Mercado Central de Aracaju, há 25 anos, vendendo pamonha, pé de moleque, tapioca, beiju molhado, sarôio e as vendas aumentam no mês de junho. Na véspera do dia São João, vendo até o dobro do que venderia em um dia comum”, conta a vendedora Vera Santos, que sai de São Cristóvão todos os dias para vender seus produtos na capital.

Aos 70 anos, Iraci Rodrigues, produz e vende comidas típicas desde os 12 anos e afirma que a época é boa porque também aumenta o número de encomendas. “A gente espera o ano todo por essa época, com a chegada das festas, aumenta nossas vendas e recebemos mais encomendas, principalmente de escolas e das empresas que fazem festinhas para os funcionários”.

Na feirinha do Augusto Franco, em Aracaju, os bolos de milho, puba e macaxeira, assim como a pamonha, canjica e beiju não faltam na banca de Dona Terezinha Gomes, que também vende nas feiras do Conjunto Santa Tereza e do município de Malhador de onde vem a maior parte da matéria prima usada em seus produtos. Há mais de 30 anos na atividade, a senhora diz que para dar conta de tantos pedidos tem o apoio da família para ajudar na produção e nas vendas.

“A procura é tanta que não tenho nem como atender a todos que querem fazer encomendas. Nessa época, até para aniversários nos fazem pedidos”, diz Dona Terezinha, revelando ainda ser fiel a qualidade dos seus produtos. “Hoje, por exemplo, eu não trouxe pamonha para vender, porque não achei milho bom para fazer. Para fazer pamonha tem que ser milho graúdo e mais maduro. Tem gente que faz com qualquer milho e coloca massa de milho para dar o ponto, mas eu não gosto de usar massa de milho, porque não fica o mesmo sabor”, explica.

Na casa da feirante Cacilda Diniz, 35 anos, do município de Santa Rosa de Lima, a produção também é familiar. A maioria dos produtos vendidos por ela, pé de moleque, pamonha, beiju molhado, canjica, e bolos diversos, como os bolos de leite e de arroz, são feitos por sua mãe, Dona Maria Hortência. Mas ela, assim como suas irmãs, também aprendeu a fazer os pratos indispensáveis aos festejos juninos.

“Desde os 10 anos, aprendi a fazer essas comidas para ajudar minha mãe, quando ela se separou do meu pai e passou a fazer os pratos para sustentar a casa. Pé de moleque, beiju molhado, pamonha, canjica e bolo de aipim são os itens mais encomendados durante essa época do São João. Eu vendo em Aracaju, e minha irmãs em Laranjeira e em Santa Rosa mesmo”.

Segundo Cacilda, no período junino a renda com as vendas chega a ser superior ao dobro do que é vendido nos meses comuns. “Nós outros meses consigo vender até R$ 900 em produtos, e no mês de junho chego até R$ 2 mil em faturamento”.

O milho

Rei entre as comidas típicas do período junino, o milho, consumido verde cozido ou assado e que serve como base para pratos como pamonha, canjica, mungunzá, manauê e pipoca, tem Sergipe como seu segundo estado de maior produção no Nordeste. A cultura, predominante nos municípios de Carira, Simão Dias, Poço Verde e Frei Paulo, conta com o incentivo do Governo do Estado que realiza a distribuição de sementes e da mecanização agrícola, principalmente entre os pequenos produtores.

O comerciante Júlio Cézar, 26 anos, trabalha com a venda de milho há dois anos e relata que nesta época as vendas aumentam 100%. “O milho que eu vendo vem de Malhador. A gente vende o ano todo, mas no São João é sempre melhor. A gente chega a vender até 15 mil espigas e a tirar até R$ 2 mil de lucro”.

Amendoim

A partir da lei 7.682/20013, o amendoim verde, cozido em água, limão e sal, passou a ser reconhecido oficialmente como Patrimônio Imaterial de Sergipe. Na banca do senhor Jorge Bispo, 55 anos, o alimento, típico do Estado pela a forma original que é comercializado em Sergipe, é produzido em Itabaiana e muito procurado pelos consumidores.

“Há mais de 30 anos vendo amendoim nas feiras de Sergipe. Em épocas como o São João ou Copa do Mundo é uma maravilha, porque as vendas aumentam muito. Já ouvir falar nisso de ser um patrimônio do estado e acho muito bom, porque a maneira como é vendido aqui em Sergipe é diferente de outros locais que costumam vender o amendoim seco ou descascado”, conta o vendedor, informando que as vendas, no período, passam de 15 sacos para 30 ao mês, com um faturamento de até R$ 3 mil.

Bebidas do período junino

Nos Mercados centrais de Aracaju, que dispõem de restaurantes e comércios que vendem de tudo um pouco, comidas e bebidas de todos os tipos, inclusive as que são tradicionais neste mês, são fáceis de serem encontradas. Seu Narciso Oliveira, 76, comerciante há 45 anos, vende queijos, requeijões, castanhas, cereais, pimentas, azeites, balas, caramelos e bebidas, como o tradicional licor.

Nesta época, as vendas da bebida movimenta a mercearia do comerciante, que oferece aos consumidores os mais variados sabores.  “Não existe método para trazer clientes para a loja, basta vender produtos de qualidade, que o freguês volta para comprar mais. Por exemplo, o melhor licor do mercado é o meu, porque é fabricado com todo cuidado por meus familiares lá em Itabaiana”, brinca Seu Narciso, dizendo que o seu licor é o mais vendido por ser uma bebida leve, gostosa e adocicada.

O licor continua sendo a principal bebida característica do mês, em Sergipe, e é também a mais trabalhosa no preparo, que é totalmente artesanal, ficando por vários dias em descanso. O quentão e o vinho quente, também de produção artesanal, são mais consumidos na região Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Mas em alguns poucos municípios do Nordeste, com a chegada do inverno essas bebidas também são apreciada por pessoas que vão curtir as festas à noite.

A feirante Lourdes de Oliveira, 67, esposa de seu Narciso, conta que o quentão não tem tradição no comércio sergipano e explica o porquê. “Normalmente as pessoas compram os produtos aqui nos mercados para produção e consumo próprio. É normal por conta do processo de preparo que é trabalhoso, e também não é todo mundo que gosta dos ingredientes que vão à preparação”, finaliza.

 

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Nas feiras populares, na capital e no interior, a matéria prima dos alimentos ou os pratos já elaborados estão à disposição dos consumidores
Segunda-Feira, 29 de Junho de 2015 às 14:01:00

Tão marcante na cultura popular quanto as festas, danças e músicas, as comidas típicas, no Nordeste, ganham destaque no período junino, onde são ainda mais consumidas e comercializadas. Em Sergipe, o beiju, a queijada, o sarôio, o manauê e o amendoim verde cozido mais do que delícias associadas aos festejos da época, ganharam o título de patrimônio do Estado e caracterizam a época marcada pelas homenagens a Santo Antônio, São João e São Pedro.

Nas feiras populares, na capital e no interior, a matéria prima dos alimentos ou os pratos já elaborados estão à disposição dos consumidores. “Trabalho aqui, no Mercado Central de Aracaju, há 25 anos, vendendo pamonha, pé de moleque, tapioca, beiju molhado, sarôio e as vendas aumentam no mês de junho. Na véspera do dia São João, vendo até o dobro do que venderia em um dia comum”, conta a vendedora Vera Santos, que sai de São Cristóvão todos os dias para vender seus produtos na capital.

Aos 70 anos, Iraci Rodrigues, produz e vende comidas típicas desde os 12 anos e afirma que a época é boa porque também aumenta o número de encomendas. “A gente espera o ano todo por essa época, com a chegada das festas, aumenta nossas vendas e recebemos mais encomendas, principalmente de escolas e das empresas que fazem festinhas para os funcionários”.

Na feirinha do Augusto Franco, em Aracaju, os bolos de milho, puba e macaxeira, assim como a pamonha, canjica e beiju não faltam na banca de Dona Terezinha Gomes, que também vende nas feiras do Conjunto Santa Tereza e do município de Malhador de onde vem a maior parte da matéria prima usada em seus produtos. Há mais de 30 anos na atividade, a senhora diz que para dar conta de tantos pedidos tem o apoio da família para ajudar na produção e nas vendas.

“A procura é tanta que não tenho nem como atender a todos que querem fazer encomendas. Nessa época, até para aniversários nos fazem pedidos”, diz Dona Terezinha, revelando ainda ser fiel a qualidade dos seus produtos. “Hoje, por exemplo, eu não trouxe pamonha para vender, porque não achei milho bom para fazer. Para fazer pamonha tem que ser milho graúdo e mais maduro. Tem gente que faz com qualquer milho e coloca massa de milho para dar o ponto, mas eu não gosto de usar massa de milho, porque não fica o mesmo sabor”, explica.

Na casa da feirante Cacilda Diniz, 35 anos, do município de Santa Rosa de Lima, a produção também é familiar. A maioria dos produtos vendidos por ela, pé de moleque, pamonha, beiju molhado, canjica, e bolos diversos, como os bolos de leite e de arroz, são feitos por sua mãe, Dona Maria Hortência. Mas ela, assim como suas irmãs, também aprendeu a fazer os pratos indispensáveis aos festejos juninos.

“Desde os 10 anos, aprendi a fazer essas comidas para ajudar minha mãe, quando ela se separou do meu pai e passou a fazer os pratos para sustentar a casa. Pé de moleque, beiju molhado, pamonha, canjica e bolo de aipim são os itens mais encomendados durante essa época do São João. Eu vendo em Aracaju, e minha irmãs em Laranjeira e em Santa Rosa mesmo”.

Segundo Cacilda, no período junino a renda com as vendas chega a ser superior ao dobro do que é vendido nos meses comuns. “Nós outros meses consigo vender até R$ 900 em produtos, e no mês de junho chego até R$ 2 mil em faturamento”.

O milho

Rei entre as comidas típicas do período junino, o milho, consumido verde cozido ou assado e que serve como base para pratos como pamonha, canjica, mungunzá, manauê e pipoca, tem Sergipe como seu segundo estado de maior produção no Nordeste. A cultura, predominante nos municípios de Carira, Simão Dias, Poço Verde e Frei Paulo, conta com o incentivo do Governo do Estado que realiza a distribuição de sementes e da mecanização agrícola, principalmente entre os pequenos produtores.

O comerciante Júlio Cézar, 26 anos, trabalha com a venda de milho há dois anos e relata que nesta época as vendas aumentam 100%. “O milho que eu vendo vem de Malhador. A gente vende o ano todo, mas no São João é sempre melhor. A gente chega a vender até 15 mil espigas e a tirar até R$ 2 mil de lucro”.

Amendoim

A partir da lei 7.682/20013, o amendoim verde, cozido em água, limão e sal, passou a ser reconhecido oficialmente como Patrimônio Imaterial de Sergipe. Na banca do senhor Jorge Bispo, 55 anos, o alimento, típico do Estado pela a forma original que é comercializado em Sergipe, é produzido em Itabaiana e muito procurado pelos consumidores.

“Há mais de 30 anos vendo amendoim nas feiras de Sergipe. Em épocas como o São João ou Copa do Mundo é uma maravilha, porque as vendas aumentam muito. Já ouvir falar nisso de ser um patrimônio do estado e acho muito bom, porque a maneira como é vendido aqui em Sergipe é diferente de outros locais que costumam vender o amendoim seco ou descascado”, conta o vendedor, informando que as vendas, no período, passam de 15 sacos para 30 ao mês, com um faturamento de até R$ 3 mil.

Bebidas do período junino

Nos Mercados centrais de Aracaju, que dispõem de restaurantes e comércios que vendem de tudo um pouco, comidas e bebidas de todos os tipos, inclusive as que são tradicionais neste mês, são fáceis de serem encontradas. Seu Narciso Oliveira, 76, comerciante há 45 anos, vende queijos, requeijões, castanhas, cereais, pimentas, azeites, balas, caramelos e bebidas, como o tradicional licor.

Nesta época, as vendas da bebida movimenta a mercearia do comerciante, que oferece aos consumidores os mais variados sabores.  “Não existe método para trazer clientes para a loja, basta vender produtos de qualidade, que o freguês volta para comprar mais. Por exemplo, o melhor licor do mercado é o meu, porque é fabricado com todo cuidado por meus familiares lá em Itabaiana”, brinca Seu Narciso, dizendo que o seu licor é o mais vendido por ser uma bebida leve, gostosa e adocicada.

O licor continua sendo a principal bebida característica do mês, em Sergipe, e é também a mais trabalhosa no preparo, que é totalmente artesanal, ficando por vários dias em descanso. O quentão e o vinho quente, também de produção artesanal, são mais consumidos na região Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Mas em alguns poucos municípios do Nordeste, com a chegada do inverno essas bebidas também são apreciada por pessoas que vão curtir as festas à noite.

A feirante Lourdes de Oliveira, 67, esposa de seu Narciso, conta que o quentão não tem tradição no comércio sergipano e explica o porquê. “Normalmente as pessoas compram os produtos aqui nos mercados para produção e consumo próprio. É normal por conta do processo de preparo que é trabalhoso, e também não é todo mundo que gosta dos ingredientes que vão à preparação”, finaliza.