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Quinta-Feira, 28 de Janeiro de 2021 às 17:45:00
Dia Nacional da Visibilidade Trans: concurso da SEIAS divulga frases de pessoas trans em Sergipe
A luta pela vida, a autoaceitação e a busca por respeito na sociedade foram as principais inspirações das frases vencedoras

Nesta sexta-feira, 29 de janeiro, é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, um marco na luta pela dignidade e cidadania de pessoas transexuais e travestis no Brasil. A data foi criada em 2004, quando mulheres transexuais, homens trans e mulheres travestis foram a Brasília lançar a campanha nacional “Travesti e Respeito”, dando origem a manifestações e passeatas em todo o país. Com o objetivo de visibilizar a luta dessa população em Sergipe, a Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência Social (SEIAS) lançou um concurso para escolher quatro temas para o Dia da Visibilidade Trans 2021 no estado. A partir da pergunta: “O que o Dia da Visibilidade Trans representa para você?”, o público trans e travesti escreveu frases e as quatro mais curtidas foram as vencedoras, revelando particularidades dessa luta em Sergipe.

O primeiro lugar conquistou 249 curtidas com a frase “Ser vista para continuar viva!”, de autoria de Ila Williane Almeida, e ganhou ainda um book fotográfico com a fotógrafa Pritty Reis. “Eu vejo que existe uma necessidade de mostrar que estamos em todos os lugares. Temos que ser vistas, porque há um tempo não podíamos nem aparecer durante o dia, pois a sociedade nos recriminava muito mais. E hoje, ver mulheres como eu nas áreas da Saúde ou da Política, por exemplo, é muito importante. Ser vista é mostrar que estamos vivas. E que estamos construindo e lutando, não com as mesmas oportunidades e privilégios, mas as pessoas verão onde vamos chegar. Por isso, é necessário que estejamos em todos os lugares, construindo as políticas públicas a partir de nossa vivência, pois nós temos a fala Por isso, campanhas como esta são necessárias”, pontuou Ila Williane Almeida, estudante de Técnica de Enfermagem. 

A referência técnica LGBTQI+ da SEIAS, Adriana Lohanna, destacou que a Diretoria de Direitos Humanos (DIDH) da Secretaria de Inclusão Social realiza ações de interlocução com a população trans para a discussão de políticas públicas inclusivas, e que esse concurso faz parte de uma dessas ações. “Esta data é para que as pessoas trans possam ser vistas, tenham mais visibilidade como cidadãs e cidadãos que são. Neste ano, a Seias decidiu fazer uma campanha diferente, e a importância desse concurso é dar visibilidade a essas pessoas trans, que não somente neste dia, mas em todos os momentos da vida, enfrentam muitas barreiras de sobrevivência e existência. Queremos mostrar que essas pessoas existem, são importantes e merecem ser ouvidas e respeitadas como todas as outras”, afirmou a referência estadual. 

Frases que revelam vidas

Com a frase “Ressurgi das cinzas, reconheci meu corpo!”, a segunda colocada no concurso foi Lara Danielly, que enfatizou a importância em reconhecer a sua história e lutar pelo direito de ser quem é. “Tenho conflitos internos com a sociedade e com minha família. Eu já tinha notado desde criança que eu não fazia parte da classe masculina, mas foi aos 15 anos que informei à minha tia, com quem moro. Ela disse que era só uma fase, que era algo da minha cabeça. Até que fui fazer um curso no IFS [Instituto Federal de Sergipe], e uma ex-professora me levou a uma palestra sobre identidade de gênero com Adriana Lohanna. Eu me identifiquei muito e foi quando eu me aceitei. A frase simboliza o fechamento de um ciclo e início de um novo. Antes mesmo de a gente nascer, a sociedade já impõe um gênero, mas a gente vai crescendo e vai conhecendo a nossa essência. É muito importante ter o apoio do Estado porque é mais uma força, um suporte para nós”, disse Dani. 

O terceiro lugar ficou com a frase “Crianças e adolescentes trans existem”, de autoria da conselheira tutelar do município de Aracaju e mulher trans, Silvânia Santos. “Minha inspiração foi do meu dia a dia no Conselho Tutelar e também de muito do que vivi com minha transição. Existem crianças e adolescentes transexuais e a sociedade insiste em esconder. Precisamos quebrar esse tabu, fomentar esse debate, porque elas existem e precisam de nosso auxílio. No Conselho Tutelar, a gente busca orientar os pais, acolher essas crianças, pois muitas se descobrem mais cedo, e muitas famílias não sabem como lidar com isso. Quero parabenizar a Seias por ter feito essa campanha, para fazer as pessoas mostrarem o que pensam, mostrar a sua visibilidade e debater temas que são tão importantes para nós. Isso é diversidade”. 

O jovem Bryan dos Anjos, adolescente trans de 16 anos, reforça a importância da frase de Silvânia. “Eu me reconheci recentemente, em 2019, mas desde criança eu tinha atitudes masculinas, queria fazer tudo igual ao meu pai, não me identificava com o feminino e me sentia muito desconfortável. Até que eu conheci pessoas LGBT e me identifiquei. Nunca me importei com o que as pessoas falam. Minha família não apóia, mas tento transitar de uma maneira mais natural, me vestir como quero. Ainda não tenho a autorização dos meus pais para fazer o tratamento com hormônios, mas no ano passado eu consegui mudar meu nome. Eu era muito infeliz antes de me reconhecer. Mas conforme eu fui me entendendo e me aceitando, comecei a ser feliz. É como se eu tivesse nascido de novo e bem melhor”, disse o adolescente.

A campanha também abarcou frases e comentários de outros municípios do estado, a exemplo do quarto colocado, Jhonn Leite, da cidade de Riachuelo, no agreste sergipano. A partir da frase: "Somos resistência e não abrimos mão da nossa existência", o jovem trans contou sobre as dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho, que exclui e marginaliza a população trans. “Infelizmente, o mercado de trabalho ainda não nos aceita. Mas, faço meus bicos com pintura, ajudante de pedreiro, essas coisas. O que eu quis passar com a minha frase é que nós, trans, tentamos sobreviver todos os dias para não sermos agredidos, para não morrer. Criei a frase a partir de minha vivência e me senti reconhecido, visível, com a campanha do Estado. Estou muito feliz por ter ficado em quarto lugar e ter sido escolhido pela minha frase, que destaca a importância em resistir”, declarou Jhonn.

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Dia Nacional da Visibilidade Trans: concurso da SEIAS divulga frases de pessoas trans em Sergipe
A luta pela vida, a autoaceitação e a busca por respeito na sociedade foram as principais inspirações das frases vencedoras
Quinta-Feira, 28 de Janeiro de 2021 às 17:45:00

Nesta sexta-feira, 29 de janeiro, é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, um marco na luta pela dignidade e cidadania de pessoas transexuais e travestis no Brasil. A data foi criada em 2004, quando mulheres transexuais, homens trans e mulheres travestis foram a Brasília lançar a campanha nacional “Travesti e Respeito”, dando origem a manifestações e passeatas em todo o país. Com o objetivo de visibilizar a luta dessa população em Sergipe, a Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência Social (SEIAS) lançou um concurso para escolher quatro temas para o Dia da Visibilidade Trans 2021 no estado. A partir da pergunta: “O que o Dia da Visibilidade Trans representa para você?”, o público trans e travesti escreveu frases e as quatro mais curtidas foram as vencedoras, revelando particularidades dessa luta em Sergipe.

O primeiro lugar conquistou 249 curtidas com a frase “Ser vista para continuar viva!”, de autoria de Ila Williane Almeida, e ganhou ainda um book fotográfico com a fotógrafa Pritty Reis. “Eu vejo que existe uma necessidade de mostrar que estamos em todos os lugares. Temos que ser vistas, porque há um tempo não podíamos nem aparecer durante o dia, pois a sociedade nos recriminava muito mais. E hoje, ver mulheres como eu nas áreas da Saúde ou da Política, por exemplo, é muito importante. Ser vista é mostrar que estamos vivas. E que estamos construindo e lutando, não com as mesmas oportunidades e privilégios, mas as pessoas verão onde vamos chegar. Por isso, é necessário que estejamos em todos os lugares, construindo as políticas públicas a partir de nossa vivência, pois nós temos a fala Por isso, campanhas como esta são necessárias”, pontuou Ila Williane Almeida, estudante de Técnica de Enfermagem. 

A referência técnica LGBTQI+ da SEIAS, Adriana Lohanna, destacou que a Diretoria de Direitos Humanos (DIDH) da Secretaria de Inclusão Social realiza ações de interlocução com a população trans para a discussão de políticas públicas inclusivas, e que esse concurso faz parte de uma dessas ações. “Esta data é para que as pessoas trans possam ser vistas, tenham mais visibilidade como cidadãs e cidadãos que são. Neste ano, a Seias decidiu fazer uma campanha diferente, e a importância desse concurso é dar visibilidade a essas pessoas trans, que não somente neste dia, mas em todos os momentos da vida, enfrentam muitas barreiras de sobrevivência e existência. Queremos mostrar que essas pessoas existem, são importantes e merecem ser ouvidas e respeitadas como todas as outras”, afirmou a referência estadual. 

Frases que revelam vidas

Com a frase “Ressurgi das cinzas, reconheci meu corpo!”, a segunda colocada no concurso foi Lara Danielly, que enfatizou a importância em reconhecer a sua história e lutar pelo direito de ser quem é. “Tenho conflitos internos com a sociedade e com minha família. Eu já tinha notado desde criança que eu não fazia parte da classe masculina, mas foi aos 15 anos que informei à minha tia, com quem moro. Ela disse que era só uma fase, que era algo da minha cabeça. Até que fui fazer um curso no IFS [Instituto Federal de Sergipe], e uma ex-professora me levou a uma palestra sobre identidade de gênero com Adriana Lohanna. Eu me identifiquei muito e foi quando eu me aceitei. A frase simboliza o fechamento de um ciclo e início de um novo. Antes mesmo de a gente nascer, a sociedade já impõe um gênero, mas a gente vai crescendo e vai conhecendo a nossa essência. É muito importante ter o apoio do Estado porque é mais uma força, um suporte para nós”, disse Dani. 

O terceiro lugar ficou com a frase “Crianças e adolescentes trans existem”, de autoria da conselheira tutelar do município de Aracaju e mulher trans, Silvânia Santos. “Minha inspiração foi do meu dia a dia no Conselho Tutelar e também de muito do que vivi com minha transição. Existem crianças e adolescentes transexuais e a sociedade insiste em esconder. Precisamos quebrar esse tabu, fomentar esse debate, porque elas existem e precisam de nosso auxílio. No Conselho Tutelar, a gente busca orientar os pais, acolher essas crianças, pois muitas se descobrem mais cedo, e muitas famílias não sabem como lidar com isso. Quero parabenizar a Seias por ter feito essa campanha, para fazer as pessoas mostrarem o que pensam, mostrar a sua visibilidade e debater temas que são tão importantes para nós. Isso é diversidade”. 

O jovem Bryan dos Anjos, adolescente trans de 16 anos, reforça a importância da frase de Silvânia. “Eu me reconheci recentemente, em 2019, mas desde criança eu tinha atitudes masculinas, queria fazer tudo igual ao meu pai, não me identificava com o feminino e me sentia muito desconfortável. Até que eu conheci pessoas LGBT e me identifiquei. Nunca me importei com o que as pessoas falam. Minha família não apóia, mas tento transitar de uma maneira mais natural, me vestir como quero. Ainda não tenho a autorização dos meus pais para fazer o tratamento com hormônios, mas no ano passado eu consegui mudar meu nome. Eu era muito infeliz antes de me reconhecer. Mas conforme eu fui me entendendo e me aceitando, comecei a ser feliz. É como se eu tivesse nascido de novo e bem melhor”, disse o adolescente.

A campanha também abarcou frases e comentários de outros municípios do estado, a exemplo do quarto colocado, Jhonn Leite, da cidade de Riachuelo, no agreste sergipano. A partir da frase: "Somos resistência e não abrimos mão da nossa existência", o jovem trans contou sobre as dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho, que exclui e marginaliza a população trans. “Infelizmente, o mercado de trabalho ainda não nos aceita. Mas, faço meus bicos com pintura, ajudante de pedreiro, essas coisas. O que eu quis passar com a minha frase é que nós, trans, tentamos sobreviver todos os dias para não sermos agredidos, para não morrer. Criei a frase a partir de minha vivência e me senti reconhecido, visível, com a campanha do Estado. Estou muito feliz por ter ficado em quarto lugar e ter sido escolhido pela minha frase, que destaca a importância em resistir”, declarou Jhonn.