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Quarta-Feira, 08 de Julho de 2020 às 09:15:00
Os dois séculos em tempos de pandemia

As terras de Cerezipe entram na história nos primórdios da colonização, quando, a ferro e fogo, foram dizimados os índios, seus primitivos habitantes. Exterminados ou escravizados os gentios; em pouco tempo, entre as barras do Vaza Barris e do Sergipe, ultrapassando as serranias de Itabaiana ou seguindo, bem ao norte, o curso do São Francisco, surgiram os currais. Ao terminar o primeiro século da existência do Brasil, as povoações da Bahia e Pernambuco já eram abastecidas com o gado dos pastos de Cerezipe.  Dos primeiros engenhos, instalados nas terras de massapês, já eram enviadas à Europa uma considerável quantidade de caixas de açúcar, e aqui,  foram aumentando, continuadamente, os povoadores e os seus empreendimentos.

Cerezipe era, contudo, um apêndice da grande Bahia, mas, passado algum tempo, os aqui nascidos estariam a exigir a sua própria identidade.

Não foi fácil extrair da Corte a Carta Régia datada de 8 de julho de 1820, que atendia aos sergipanos, e dava autonomia a um Sergipe del  Rei, separado da Bahia, cuja influência política fora um permanente obstáculo  às nossas pretensões.

Mas, enfim, chegamos aos duzentos anos de vida independente. Coube ao destino que eu estivesse à frente do governo de Sergipe por ocasião dessa grande efeméride.

Coube também,  ao destino, que eu estivesse, no governo, a enfrentar a maior crise já vivida pelo nosso estado nesses duzentos anos de existência.

Havíamos programado um elenco de atividades comemorativas, entendendo que iríamos viver o momento exato para fortalecer o nosso sentimento de sergipanidade. O objetivo principal era fazer conhecer  revisitando a nossa história,  oferecendo ao nosso povo, através de variados eventos culturais, o resumo pedagógico dessa afanosa trajetória de dois séculos.

Constituímos uma comissão, dialogamos com intelectuais, artistas , empreendedores, militares, e isso nos fez traçar um roteiro  de eventos que se transformariam em atração turística, e gerariam emprego e renda.

Seria uma espécie de ano de ouro de Sergipe.

Para aqui viriam grandes orquestras, grupos de teatro e  folclóricos, bandas; teríamos desfiles, shows, atividades escolares alusivas e permanentes, seminários, conferencias, lançamentos de livros, enfim, seria a festa do nosso bicentenário de independência, a festa por excelência  de exaltação a Sergipe e aos sergipanos; uma homenagem às gerações que atravessaram  o tempo, o passado a ser rememorado, também estudado, analisado com pertinência, para que, conhecendo a nossa história, pudéssemos melhor projetar o futuro.

A pandemia, essa tragédia que vive o Brasil, acabou a nossa festa, e nos trouxe sofrimento, dor, agonias.

Como ente federativo de uma República que vimos nascer, pela qual lutamos, e que desejamos vê-la sintonizada com os princípios que a inspiraram, somos partícipes e solidários, na tarefa desafiadora lançada agora diante de todos nós brasileiros. Por isso, concentrados no mesmo esforço, o nosso bicentenário que não se comemora com luzes e sons, vem sendo o ano em que os valores da gente sergipana  mais intensamente  estão sendo postos  à prova.  Dois séculos de história nos ensinaram muita coisa, e a lição maior é a de que, quando nos dividimos em confrontos desnecessários , perdemos a perspectiva de futuro, e nos desviamos da rota para alcançá-lo.

Passada essa quadra de tormentos, lágrimas, e perdas, iremos nos retemperar, valorizar ainda mais a vida, reverenciando os que se foram, homenageando a todos que se desdobraram para amenizar a dor, preservar vidas, e ter a certeza de que, no nosso tricentenário, as crianças sergipanas,  nas escolas exemplares do futuro, debruçando-se sobre a nossa história, dirão: “ Nossos bisavós, há cem anos construíram uma bela página de solidariedade, resistência e amor; aquele vírus mortal, foi um dos últimos a causar pandemias, a matar as pessoas. Hoje, eles não mais existem, como todas aquelas outras graves doenças que causavam tantas mortes . A ciência  abriu caminho para que nós, jovens do ano 2120, tenhamos uma perspectiva de vida segura e longa, por isso, poderemos assistir o quarto centenário de Sergipe, sem maiores sobressaltos“.

Agora, o que temos  pela frente,  é a necessidade de refazer o ritmo da vida, consolidar a esperança, acreditar no futuro e  voltar intensamente a tentar construí-lo, da melhor forma possível. Espero em Deus, que, como governador de todos os sergipanos, estejamos, o mais rapidamente possível empenhados na grande missão, que será recuperar o que foi perdido, e  com mais discernimento e fé, prosseguir na caminhada rumo ao PORVIR, aquela palavra chave, que está caracterizada no nosso símbolo, o balão simples sustentado por dois índios, nossos ancestrais. Aquele aeróstato, quando nem ainda se conhecia a possibilidade da dirigibilidade dos balões, era uma alusão futurista ao sonho de voar entre as nuvens.

Trabalho, realismo e sonho, são essenciais para que o Sergipe del Rey, o nosso  Sergipe, atravesse os séculos comemorando com luzes a sua existência.

Que Deus esteja com este Sergipe del Rey, com o seu povo, neste bicentenário, e nos centenários que virão.

 

BELIVALDO CHAGAS

Governador de Sergipe

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Os dois séculos em tempos de pandemia
Quarta-Feira, 08 de Julho de 2020 às 09:15:00

As terras de Cerezipe entram na história nos primórdios da colonização, quando, a ferro e fogo, foram dizimados os índios, seus primitivos habitantes. Exterminados ou escravizados os gentios; em pouco tempo, entre as barras do Vaza Barris e do Sergipe, ultrapassando as serranias de Itabaiana ou seguindo, bem ao norte, o curso do São Francisco, surgiram os currais. Ao terminar o primeiro século da existência do Brasil, as povoações da Bahia e Pernambuco já eram abastecidas com o gado dos pastos de Cerezipe.  Dos primeiros engenhos, instalados nas terras de massapês, já eram enviadas à Europa uma considerável quantidade de caixas de açúcar, e aqui,  foram aumentando, continuadamente, os povoadores e os seus empreendimentos.

Cerezipe era, contudo, um apêndice da grande Bahia, mas, passado algum tempo, os aqui nascidos estariam a exigir a sua própria identidade.

Não foi fácil extrair da Corte a Carta Régia datada de 8 de julho de 1820, que atendia aos sergipanos, e dava autonomia a um Sergipe del  Rei, separado da Bahia, cuja influência política fora um permanente obstáculo  às nossas pretensões.

Mas, enfim, chegamos aos duzentos anos de vida independente. Coube ao destino que eu estivesse à frente do governo de Sergipe por ocasião dessa grande efeméride.

Coube também,  ao destino, que eu estivesse, no governo, a enfrentar a maior crise já vivida pelo nosso estado nesses duzentos anos de existência.

Havíamos programado um elenco de atividades comemorativas, entendendo que iríamos viver o momento exato para fortalecer o nosso sentimento de sergipanidade. O objetivo principal era fazer conhecer  revisitando a nossa história,  oferecendo ao nosso povo, através de variados eventos culturais, o resumo pedagógico dessa afanosa trajetória de dois séculos.

Constituímos uma comissão, dialogamos com intelectuais, artistas , empreendedores, militares, e isso nos fez traçar um roteiro  de eventos que se transformariam em atração turística, e gerariam emprego e renda.

Seria uma espécie de ano de ouro de Sergipe.

Para aqui viriam grandes orquestras, grupos de teatro e  folclóricos, bandas; teríamos desfiles, shows, atividades escolares alusivas e permanentes, seminários, conferencias, lançamentos de livros, enfim, seria a festa do nosso bicentenário de independência, a festa por excelência  de exaltação a Sergipe e aos sergipanos; uma homenagem às gerações que atravessaram  o tempo, o passado a ser rememorado, também estudado, analisado com pertinência, para que, conhecendo a nossa história, pudéssemos melhor projetar o futuro.

A pandemia, essa tragédia que vive o Brasil, acabou a nossa festa, e nos trouxe sofrimento, dor, agonias.

Como ente federativo de uma República que vimos nascer, pela qual lutamos, e que desejamos vê-la sintonizada com os princípios que a inspiraram, somos partícipes e solidários, na tarefa desafiadora lançada agora diante de todos nós brasileiros. Por isso, concentrados no mesmo esforço, o nosso bicentenário que não se comemora com luzes e sons, vem sendo o ano em que os valores da gente sergipana  mais intensamente  estão sendo postos  à prova.  Dois séculos de história nos ensinaram muita coisa, e a lição maior é a de que, quando nos dividimos em confrontos desnecessários , perdemos a perspectiva de futuro, e nos desviamos da rota para alcançá-lo.

Passada essa quadra de tormentos, lágrimas, e perdas, iremos nos retemperar, valorizar ainda mais a vida, reverenciando os que se foram, homenageando a todos que se desdobraram para amenizar a dor, preservar vidas, e ter a certeza de que, no nosso tricentenário, as crianças sergipanas,  nas escolas exemplares do futuro, debruçando-se sobre a nossa história, dirão: “ Nossos bisavós, há cem anos construíram uma bela página de solidariedade, resistência e amor; aquele vírus mortal, foi um dos últimos a causar pandemias, a matar as pessoas. Hoje, eles não mais existem, como todas aquelas outras graves doenças que causavam tantas mortes . A ciência  abriu caminho para que nós, jovens do ano 2120, tenhamos uma perspectiva de vida segura e longa, por isso, poderemos assistir o quarto centenário de Sergipe, sem maiores sobressaltos“.

Agora, o que temos  pela frente,  é a necessidade de refazer o ritmo da vida, consolidar a esperança, acreditar no futuro e  voltar intensamente a tentar construí-lo, da melhor forma possível. Espero em Deus, que, como governador de todos os sergipanos, estejamos, o mais rapidamente possível empenhados na grande missão, que será recuperar o que foi perdido, e  com mais discernimento e fé, prosseguir na caminhada rumo ao PORVIR, aquela palavra chave, que está caracterizada no nosso símbolo, o balão simples sustentado por dois índios, nossos ancestrais. Aquele aeróstato, quando nem ainda se conhecia a possibilidade da dirigibilidade dos balões, era uma alusão futurista ao sonho de voar entre as nuvens.

Trabalho, realismo e sonho, são essenciais para que o Sergipe del Rey, o nosso  Sergipe, atravesse os séculos comemorando com luzes a sua existência.

Que Deus esteja com este Sergipe del Rey, com o seu povo, neste bicentenário, e nos centenários que virão.

 

BELIVALDO CHAGAS

Governador de Sergipe