Notícias
Notícias
Segunda-Feira, 14 de Outubro de 2019 às 09:45:00
Profissão que transforma: das bonecas às salas de aula
A educadora nata desde a infância, reunia bonecas para praticar seus ensinamentos. Não demorou muito para trocar a falta de reações e emoções dos seres estáticos pelo universo dos alunos de carne e ossos em sala de aula

O Centro de Excelência Vitória de Santa Maria, localizado no bairro Santa Maria, em Aracaju, é conhecido pelo movimento frequente de atividades desenvolvidas pelos alunos e professores. Colorida e inventiva, é uma escola que está sempre programando alguma ação para compor o tempo no Ensino Médio Integral que a unidade oferta. É lá que ensina a professora Maria de Lourdes Oliveira Almeida, por muitos carinhosamente chamada de “A Minha Segunda Mãe”.

Não é difícil compreender os motivos. A professora de Língua Portuguesa facilmente deixa escapar um sorriso; é acessível, principalmente se a aproximação vier de um de seus alunos. Ela está constantemente disponível para ajudar a envolvê-los com mais afinco nas aulas ou em atividades que os ajudem de alguma forma, seja na vida pessoal e emocional ou no desempenho escolar, Lourdes opera uma função que vai além da sala de aula.

É no âmbito das relações que Maria de Lourdes exerce um papel fundamental com os estudantes, unindo o saber científico com a experiência de vida e a prática da empatia, determinante nos dias atuais. Leonaldo Santos, atualmente no 3º ano do Ensino Médio Integral, frequenta as aulas de Maria de Lourdes desde o 1º ano, e é testemunha desse olhar atento e característico. Há dois anos, ele passou a comparecer à Orientação de Estudo, na qual Lourdes prestava auxílio aos jovens no horário reservado para estudo e finalização das tarefas pendentes do dia a dia.

As conversas com a professora foram o convite que Leonaldo encontrou para buscar a compreensão mediante as aflições da juventude. Ele conta que a professora o ajudou a superar diversas dificuldades, além de estimulá-lo à dedicação aos estudos, o que causa forte alegria para o estudante. “Eu cheguei ao 3º ano praticamente porque foi ela que me incentivou. Eu só tenho a agradecer-lhe”, concluiu.

Todas as escolas estão cheias de gente diferente. É a maneira de pensar, agir, comportar-se e comunicar-se que dá ao ambiente escolar o sinônimo de pluralidade, pois é nela que toda essa diversidade está reunida em um só lugar. E a esse respeito, nem todas as pessoas estão preparadas ou confortáveis para a incumbência de lidar com isso. Contudo, Maria de Lourdes demonstra ter maestria.

Lorrana Araújo estuda o 1º ano do Ensino Médio Integral. Ao falar da professora Lourdes, a primeira palavra dita espontaneamente é amor. Só alguém com a abundância desse sentimento pode inspirar tantas emoções. Lorrana explica que o projeto social do qual faz parte contou com a ajuda de Maria de Lourdes, e que embora ele tenha nascido para ser encerrado após a conclusão das atividades, o projeto ainda se mantém. “Ela foi uma das pessoas que mais acreditou em mim e que me faz seguir em frente”, contou com a voz embargada pela emoção.  

Ensinar como vocação

Esse ser humano que influencia jovens a confiarem a si o sucesso das próprias vidas dedicou às bonecas as primeiras aulas. Na infância, a brincadeira favorita de Maria de Lourdes era reunir as bonecas para o estudo, cenário em que ela se empregava de educadora. Aos 11 anos, as bonecas foram deixadas de lado para dar lugar às crianças carentes que não frequentavam a escola no Velho Aribé, atual bairro Siqueira Campos.

Ao lado da amiga Iracema, Lourdes compôs uma turma com 20 crianças e as levou para a sala de aula improvisada na garagem de casa. Assim, pediu à avó que encomendasse a construção dos bancos e ao avô, a compra de um quadro. Desta forma, o sonho de menina já era realidade e aconteceu de forma crescente e colaborativa. Após dois anos, as crianças passaram a frequentar o ensino regular, alfabetizadas pelas professoras Lourdes e Iracema. O que era uma brincadeira ficou sério, e Lourdes continuou a alfabetizar os irmãos e as crianças da rua onde residia. 

O impacto social provocado por Lourdes na infância acompanha a educadora até o hoje, renovando a esperança e a força de quem precisa para superar os percalços dos novos tempos. As bonecas não são passíveis de reações e emoções. E nesse universo com alunos de carne e ossos nada é estático. Os conflitos, dores e angústias da juventude são aspectos que elevam ou decaem o desempenho estudantil.

E é a força, coragem e independência que Marriele Paim, do 1º ano, enxerga de mais especial na professora Lourdes. A aluna se espelha na potência de mulheres que ajudam na transformação de outras pessoas. “Eu aprendi com ela que eu posso ser o que eu quiser, que posso entrar no mercado de trabalho e fazer a diferença como mulher”.

Ao consultar a memória afetiva cheia de saudades, Lourdes cita os professores João Costa e Clélia Ficagna, ambos falecidos. “Para mim são duas pessoas incomparáveis e indescritíveis que me ensinaram a arte de ensinar”. Aos vivos, Denise Porto, Alberto e Alexandre foram lembrados por quem sente eterna gratidão pelos ensinamentos adquiridos.

À medida que a vida segue o tempo cronológico, em algum momento, os agradecimentos que um dia Lourdes proferiu para os professores responsáveis pelo seu atual ofício voltam com palavras igualmente especiais. Foi o que Tércia Maria Melo Franco fez. A filha Tainá é egressa do Centro de Excelência Vitória do Santa Maria e já frequenta as cadeiras da universidade no curso de Letras – Português/Inglês. “Eu me sentia muito segura de ter a professora Maria de Lourdes no colégio para orientar a minha filha”.

O reconhecimento faz com que os egressos do Centro de Excelência retornem ao recinto para agradecer a Maria de Lourdes pelo despertar do conhecimento na vida de cada um deles. Mas não são os únicos. Os alunos da sala improvisada do Velho Aribé, hoje com famílias constituídas, retomam a lembrança desse momento marcante nos encontros inesperados que a vida sempre reserva.

Compartilhe            
Notícia
/ Notícias / educacao_cultura_esportes

Profissão que transforma: das bonecas às salas de aula
A educadora nata desde a infância, reunia bonecas para praticar seus ensinamentos. Não demorou muito para trocar a falta de reações e emoções dos seres estáticos pelo universo dos alunos de carne e ossos em sala de aula
Segunda-Feira, 14 de Outubro de 2019 às 09:45:00

O Centro de Excelência Vitória de Santa Maria, localizado no bairro Santa Maria, em Aracaju, é conhecido pelo movimento frequente de atividades desenvolvidas pelos alunos e professores. Colorida e inventiva, é uma escola que está sempre programando alguma ação para compor o tempo no Ensino Médio Integral que a unidade oferta. É lá que ensina a professora Maria de Lourdes Oliveira Almeida, por muitos carinhosamente chamada de “A Minha Segunda Mãe”.

Não é difícil compreender os motivos. A professora de Língua Portuguesa facilmente deixa escapar um sorriso; é acessível, principalmente se a aproximação vier de um de seus alunos. Ela está constantemente disponível para ajudar a envolvê-los com mais afinco nas aulas ou em atividades que os ajudem de alguma forma, seja na vida pessoal e emocional ou no desempenho escolar, Lourdes opera uma função que vai além da sala de aula.

É no âmbito das relações que Maria de Lourdes exerce um papel fundamental com os estudantes, unindo o saber científico com a experiência de vida e a prática da empatia, determinante nos dias atuais. Leonaldo Santos, atualmente no 3º ano do Ensino Médio Integral, frequenta as aulas de Maria de Lourdes desde o 1º ano, e é testemunha desse olhar atento e característico. Há dois anos, ele passou a comparecer à Orientação de Estudo, na qual Lourdes prestava auxílio aos jovens no horário reservado para estudo e finalização das tarefas pendentes do dia a dia.

As conversas com a professora foram o convite que Leonaldo encontrou para buscar a compreensão mediante as aflições da juventude. Ele conta que a professora o ajudou a superar diversas dificuldades, além de estimulá-lo à dedicação aos estudos, o que causa forte alegria para o estudante. “Eu cheguei ao 3º ano praticamente porque foi ela que me incentivou. Eu só tenho a agradecer-lhe”, concluiu.

Todas as escolas estão cheias de gente diferente. É a maneira de pensar, agir, comportar-se e comunicar-se que dá ao ambiente escolar o sinônimo de pluralidade, pois é nela que toda essa diversidade está reunida em um só lugar. E a esse respeito, nem todas as pessoas estão preparadas ou confortáveis para a incumbência de lidar com isso. Contudo, Maria de Lourdes demonstra ter maestria.

Lorrana Araújo estuda o 1º ano do Ensino Médio Integral. Ao falar da professora Lourdes, a primeira palavra dita espontaneamente é amor. Só alguém com a abundância desse sentimento pode inspirar tantas emoções. Lorrana explica que o projeto social do qual faz parte contou com a ajuda de Maria de Lourdes, e que embora ele tenha nascido para ser encerrado após a conclusão das atividades, o projeto ainda se mantém. “Ela foi uma das pessoas que mais acreditou em mim e que me faz seguir em frente”, contou com a voz embargada pela emoção.  

Ensinar como vocação

Esse ser humano que influencia jovens a confiarem a si o sucesso das próprias vidas dedicou às bonecas as primeiras aulas. Na infância, a brincadeira favorita de Maria de Lourdes era reunir as bonecas para o estudo, cenário em que ela se empregava de educadora. Aos 11 anos, as bonecas foram deixadas de lado para dar lugar às crianças carentes que não frequentavam a escola no Velho Aribé, atual bairro Siqueira Campos.

Ao lado da amiga Iracema, Lourdes compôs uma turma com 20 crianças e as levou para a sala de aula improvisada na garagem de casa. Assim, pediu à avó que encomendasse a construção dos bancos e ao avô, a compra de um quadro. Desta forma, o sonho de menina já era realidade e aconteceu de forma crescente e colaborativa. Após dois anos, as crianças passaram a frequentar o ensino regular, alfabetizadas pelas professoras Lourdes e Iracema. O que era uma brincadeira ficou sério, e Lourdes continuou a alfabetizar os irmãos e as crianças da rua onde residia. 

O impacto social provocado por Lourdes na infância acompanha a educadora até o hoje, renovando a esperança e a força de quem precisa para superar os percalços dos novos tempos. As bonecas não são passíveis de reações e emoções. E nesse universo com alunos de carne e ossos nada é estático. Os conflitos, dores e angústias da juventude são aspectos que elevam ou decaem o desempenho estudantil.

E é a força, coragem e independência que Marriele Paim, do 1º ano, enxerga de mais especial na professora Lourdes. A aluna se espelha na potência de mulheres que ajudam na transformação de outras pessoas. “Eu aprendi com ela que eu posso ser o que eu quiser, que posso entrar no mercado de trabalho e fazer a diferença como mulher”.

Ao consultar a memória afetiva cheia de saudades, Lourdes cita os professores João Costa e Clélia Ficagna, ambos falecidos. “Para mim são duas pessoas incomparáveis e indescritíveis que me ensinaram a arte de ensinar”. Aos vivos, Denise Porto, Alberto e Alexandre foram lembrados por quem sente eterna gratidão pelos ensinamentos adquiridos.

À medida que a vida segue o tempo cronológico, em algum momento, os agradecimentos que um dia Lourdes proferiu para os professores responsáveis pelo seu atual ofício voltam com palavras igualmente especiais. Foi o que Tércia Maria Melo Franco fez. A filha Tainá é egressa do Centro de Excelência Vitória do Santa Maria e já frequenta as cadeiras da universidade no curso de Letras – Português/Inglês. “Eu me sentia muito segura de ter a professora Maria de Lourdes no colégio para orientar a minha filha”.

O reconhecimento faz com que os egressos do Centro de Excelência retornem ao recinto para agradecer a Maria de Lourdes pelo despertar do conhecimento na vida de cada um deles. Mas não são os únicos. Os alunos da sala improvisada do Velho Aribé, hoje com famílias constituídas, retomam a lembrança desse momento marcante nos encontros inesperados que a vida sempre reserva.